terça-feira, 23 de junho de 2015

O circular do quintal da Hebe

Saudamentos, caro leitor. Brasileiro, brasileira. Homem, mulher ou sei lá o que do meu país. A postagem desta vez será diferente do habitual. Algo que não era visto por aqui há muito. Muito mesmo.

Taubaté, no interior de São Paulo, terra do lendário Mazzaropi e da mítica Hebe Camargo. Como não se lembrar daquele louco logradouro rural, com uma boneca viva de cabelos catchup/mostarda, um porco que se veste bem e um sabugo de milho que fala? Também saiu de lá. Tem mais.

Taubaté tem força para ser centro cultural. Tem força histórica: a principal casa de fundição de ouro do estado no século XVII, a maior produtora de café do Vale do Paraíba durante o ciclo que se estendeu até os idos de 1930. Tem poderio industrial (Ford, LG e Volkswagen) e    por que não?    universitário: muitos jovens, inclusive antigos colegas meus, estudaram ou estudam ainda em faculdades na cidade. E ainda é pólo médico, já que os hospitais Regional e Escola são os únicos especializados em algumas enfermidades na região.

Mas claro, nem tudo são flores. Por mais coisas boas que tenha, Taubaté está dentro do estado de São Paulo. Está sujeita a uma polícia paranóica (com razão), criminalidade alta, prefeitos que pensam em fazer fortunas e se eternizar em suas províncias, etc.

Do último lote de veículos que vieram com a pintura "Telefonica". Ano 2010.

Mas melhorou. Antes de 31 de janeiro de 2015, a última vez em que estive lá para fotos foi em novembro de 2010. A cidade fica a 30 minutos de onde eu morava; porém, foram mesmo poucas as vezes em que estive lá, pois era realmente muito violenta e hostil não só para os próprios moradores, como também    e principalmente    para os busólogos. A ABC Transportes era, nitidamente, uma inimiga nossa. Motoristas nos viam como funcionários do DOPS. Algozes à paisana. Estávamos a serviço dos grandes carrascos dos NIFF.

Também pudera, a então capital regional do Viale tinha uma frota deplorável, de estética e de mecânica. Outros pardieiros sobre rodas eram importados de Guarulhos sem ao menos uma repintura, motores eram amarrados na faixa de 2000 giros, micrão era a bola da vez, acessibilidade era coisa de outro mundo. E, segundo fontes taubateanas, os NIFF colocavam fiscais à paisana de verdade dentro dos carros (!!!), a fins de vigiar todo o modus operandi    por isso é que fica fácil entender o final do parágrafo anterior. 

Se bem que nos anos 90, com ônibus bom e sem NIFF, o bicho já pegava.

Não bastasse isso, a rodoviária velha era uma amostra grátis de penitenciária: funcionários brutos, ambiente sujo por dentro e por fora, bandido espalhado pra tudo que é lado. Eu mesmo quase fui assaltado ali, em 2009.

Por essas razões, registros mais antigos dos urbanos da cidade são raros.

Susto de 2009: "refugo" embargado pela SPTrans com inúteis portas à esquerda.

Melhorou muito. Tanto que chega a ser suspeito. Na rodoviária velha de 2015 não existe mais vagabundo, nem a quase-vontade dos motoristas dos urbanos de jogar carro pra cima de quem estiver fotografando. Na ocasião estávamos em 3, todos com câmeras de nível médio pra cima como esta aqui. Um fiscal interrogou um de nós, só para registro. Não teve ameaça de tomar câmera. Não teve medo de foto.

A propósito, uma cobradora do alternativo TCTAU ainda chegou a comentar comigo que ainda tem a patota que não gosta de fotos. Falei pra ela da minha surpresa quanto ao tratamento dado pro busólogo em relação à última vez em que estive lá.

Mas a mudança se justifica por a frota da cidade ter mudado praticamente por completo. A capital do Viale ficou sem nenhum Viale para contar história, já que todos eles foram substituídos, nos idos de 2013 e 2014, por exemplares do Apache Vip e do Svelto encarroçado na divisa com Canas (ainda é Lorena por uma distância de 200 metros).

Foram quase 50 ônibus, somadas as compras dos dois modelos que você pode ver neste link.

Nessa passagem, que durou cerca de duas horas, notou-se que a rodoviária velha de 2015 também não tem mais cara de presídio, que Taubaté atualmente é a cidade com a maior quantidade de Svelto no Vale do Paraíba    embora tenha bozó chorando por papel    e que tem pastel gostoso e não muito caro (sim, o ambiente estava tão agradável que até deu pra confiar em comer pastel). Estávamos em 3 como disse anteriormente, de carro de passeio e com a intenção de subir até Campos do Jordão. Comer em Taubaté ou não comer. E valeu a pena.

Svelto do Redenção, que não conseguiu se manter parado no tempo por causa da EMTU.

Mesmo a padronização imposta pela EMTU não incomodou. A situação da ABC também evoluiu ali, embora sem a bênção de Chuck Svelto Norris. Com 15 carrocerias Apache Vip, que circulam nas pauleiras que são as estradas velhas que ligam Taubaté a Caçapava, Tremembé e Pindamonhangaba. E que, aparentemente, estão aguentando o tranco.

Redenção não conseguiu parar no tempo: pintou o que tinha, pôs as placas com tarifa e rota, inverteu o embarque    sim, antes era traseiro    mas continua com intervalos assustadores entre as saídas para Redenção e Natividade da Serra. Lembrando que a principal das linhas passa nas duas cidades.

Para a Pássaro Marron a situação ficou indiferente, embora tenha sido a última a apresentar toda a frota devidamente caracterizada. O setor ainda é o melhor no que diz respeito à assepsia dos veículos, mesmo com as mudanças operacionais da empresa    por exemplo, o setor de mecânica da garagem de Guaratinguetá (a 40 minutos de Taubaté) reativado depois de muitos anos.

A nova cara do transporte público e da rodoviária onde todas as linhas se encontram.

Um fato curioso contado pelo dono desta galeria ajuda a mostrar a que ponto havia chegado a situação. Em 2011 ou 2012, um dos pardieiros ambulantes deu o susto ao soltar o eixo traseiro igual a este carro aqui. O procedimento adotado foi fazer a manutenção dos veículos melhorar na marra: vendeu-se o guincho. Ao primeiro Viale dando biziu no meio da rua, não iria ter perdão (nem socorro) e os mecânicos seriam demitidos. Diz a lenda que nunca mais teve Viale quebrado.

E esses Viale foram valentes. Costumavam puxar linhas de segunda a segunda, enquanto os Svelto telefonica ficavam recolhidos na garagem em domingos e feriados. Resistiram bravamente. Você ainda pode comprar um desses heróis, desde que tenha disposição para dar o tratamento que ele merece    e precisa.

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Ademais, eles são passado e Taubaté tem, enfim, ônibus de acordo com suas dimensões. Costumam dizer que a frota é a perfeita ilustração de uma cidade, seu povo, seu viário, sua administração, seus recursos, até sua segurança e qualidade de vida. Pensando por esse prisma...

Falta somente um terminal rodoviário pra quem chega lá, já que o oficial está interditado desde fevereiro.

E até a próxima.