sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A treta da grande mãe

Saudamentos, prezado leitor. Hoje um pouco triste, desanimado, porque algumas circunstâncias parecem surgir nas nossas vidas pra que se torne impossível ser e estar feliz.

Mas dias melhores virão. Será?!

Falando em impossibilidades, o post de hoje é sobre uma delas no que diz respeito ao transporte rodoviário de passageiros: uma empresa que se propõe a ser boa não pode, definitivamente, ter G7 em sua frota, se quiser de fato cumprir isso diante dos olhos e ouvidos de seus passageiros.

Vou desenhando o panorama mais adiante, lembrando que esta postagem pode soar como comparativa em relação à sua antecessora.

Paisagem freqüente ao longo da viagem: plantações de café, milho e feijão a perder de vista.

A rota principal das empresas que vão de Pato Branco a Cascavel e versa-vice é, como dito na outra postagem, muito diferente da operada solitariamente pela Brantur. Não somente no que diz respeito às cidades do caminho, como também o estado de conservação e estilo das rodovias, o serviço e até o público. Como se virasse a moeda, ao trocar a filha pela mãe.

Vendo isso tudo da janela de um executivo que saiu de Foz do Iguaçú e chegou em Cascavel praticamente vazio    o que ilustra o motivo de a linha, que vai até Pato Branco, não receber mais modelos altos como este aqui desde meados de 2012 (quando o impeachment de Fernando Lugo gerou uma crise nacional, deu o gosto da insegurança à população e desestimulou o trabalho dos muambeiros).

   Piá, o brasileiro tá ganhando bem agora, não precisa mais ficar apelando pra muamba do Paraguai.

Antes que pergunte como um carro com só 40 lugares e 1 metro de altura no maleiro de baixo ainda consegue atender perfeitamente ao que é proposto, vale lembrar ainda que a grande mãe Cattani não trabalha com encomendas de grande porte. E para fechar, embora Cascavel seja uma das cidades do "eixo do tráfico", de lá não saem muitos "pedidos"    embora eu próprio tenha visto um carregamento de drones e quase presenciei a prisão de duas traficantes quando embarquei neste Pluma, em dezembro do ano passado.

Interior do Papeldiso visto sob "50 tons de roxo", devido ao insulfilme aplicado nas janelas.

Vamos às situações:
  1. Desdém com a escolha de lugares: a atendente tentou me empurrar uma cadeira na janela, sem sequer perguntar se era lá que eu queria ir    tive que pedir a troca;
  2. Atraso de saída, incrivelmente comum em viagens com a empresa, graças à enorme possibilidade de aparição dos "atrasildos" (gente que chega para pegar o ônibus quando ele já nem deveria estar mais lá);
  3. Boa recepção, com ar condicionado no talo e água gelada em um bar onde a geladeira funcionava muito bem;
  4. Assepsia imbatível do salão e do banheiro, mostrando que o desleixo é unicamente com a lataria do lado de fora, como disse na outra postagem.
Embora ocorridos os incidentes, a primeira impressão é de que seria uma viagem tranqüila. Todos os lugares foram ocupados naquele embarque, no meio de uma tarde de sábado, em uma rodoviária praticamente vazia    tanto que os guichês dos Gurgacz estavam fechados (eles não abrem nem nas tardes de sábado e nem nos domingos) e quase todas as 32 plataformas estavam livres.

Antes de prosseguir, um adendo: esta não foi a primeira vez que utilizei os serviços da grande mãe. Em fevereiro de 2013, foi a vez da linha-mor, que liga Curitiba a Francisco Beltrão. Na ocasião, fui recebido no Papeldiso 1600 por uma atendente linda e meiga com água gelada, travesseiros (um por passageiro, mas ninguém viajou ao meu lado) e música boa. O farelo de bolacha que tinha na minha poltrona passou batido, e fiquei por dois anos sem ter contado esse detalhe pra ninguém. Agora, posso torná-lo público. Só agora, que finalmente consegui fazer uma viagem pior. 

Quem me acompanha tem certeza do meu horror em relação à Marcopolo G7. Desde meu primeiro passeio com ela, já denunciava o problema do maleiro de salão. Achei inocentemente que iriam corrigi-lo; a resposta é NÃO.

Entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2015, pude experimentar praticamente toda a linha, à exceção do Viaggio 900. Tendo andado em tantos modelos, não encontrei UM sequer em que existissem maleiros firmes e isolamento acústico decente na forração do teto. Ainda há a porta da cabine de correr, na maioria dos carros e os vidros colados, que parecem sofrer de Parkinson. Fora o teto, que balança. E tudo isso simplesmente não acontece com o carro parado; você força para testar e parece que tá tudo firme.

Exemplar ano 2013, com cara de 2011 e defeitos do modelo 2009.
  
Logo ao sair da rodoviária, fomos recebidos pelo asfalto áspero de Cascavel e sentimos tudo tremer antes mesmo de chegar à BR-277 (que foi o único tapete de todo o percurso). Era só o treino.

Os jogos começam ao entrar na PR-182: curvas atrás de curvas, emendadas com curvas fechadas em declive, seguidas de aclives extensos    com curvas    numa pista simples pavimentada com buracos e remendos. Motoristas lerdos e caminhoneiros são injetados com a droga, para que o efeito seja mais perverso. Como sadismo pouco é bobagem, nosso motorista faz um verdadeiro show de malabares, a mais de 100 quilômetros por hora, como quem tem muita vontade de destruir tudo pela frente. 

De tanto que o maleiro balançava, dois travesseiros colocados lá pularam no colo de seus donos. O ar condicionado quicava junto com o que tinha de teto em volta. Uma senhora que viajava do meu lado só se deu conta da velocidade de tanto barulho de sacolejo, fruto da combinação entre viário, velocidade e carroceria.

A tortura só acabou em Realeza, na pausa para o café. Papeldiso parado não faz "crec".

Mesmo depois que o asfalto melhorou, a carroceria se enchia de grilo e porrada. Isso aparece no áudio, aliado ao incrível espírito de sociabilidade que baixou quando nosso Papeldiso entrou em Francisco Beltrão. O resto é história, lembrando que são incríveis 310 cavalos, um torque para subir paredes e um aparato de suspensão que mais dá golpe no passageiro (e na carroceria) que amortece as irregularidades do piso.


Como já conheço o K310 de outras temporadas, vê-lo endiabrado já era mais que esperado, embora ainda tenha quem acredite se tratar de um chassi fraco. Este é o terceiro Scania da história recente da empresa e sugere não ter agradado, pois chegaram mais O500 R e RS depois da sua compra. No entanto, virão outros dois Scania, porque (1) a assistência técnica da Mercedes-Benz no sudoeste do Paraná está deixando a desejar e (2) eles consideraram que os Bluetec 5 estão bebendo demais, tornando a série K uma aposta.

Mas todas essas preocupações    manutenção, conforto e limpeza dos veículos    não servem de nada se o objetivo é garantir sempre uma boa viagem, por terem se fidelizado à compra de uma carroceria que, do meio pra cima, põe tudo a perder.

E até a próxima.