Saudamentos. Peço desculpa aos senhores por meus surtos de velhice; em vários momentos e temas, tenho me observado como conservador, reacionário e caretão. Hoje, o assunto é um chassi que certamente não agrada, nunca agradou e, pelo visto, jamais vai agradar a alguém. Nem aqui e nem na conchinchina. Porque buseiro, bozó ou similar gosta de potência, independente das dimensões e do contexto de operação do veículo; porém, não é só isso.
O O-500 R já chegou como uma espécie de "político": veio para ser alternativa ao "velho" (cujo nome de guerra é "O-400 RSE"), trazendo uma nova proposta (o motor OM906) e sendo criticado até não poder mais.
Veio ao Brasil em 2001, por meio deste espécime, e explodiu chegou perto disso, literalmente em 2002, com as lendárias joaninhas do tio Jelson. Fez sucesso do jeito errado, ganhou refrigeração, mudou o nome do motor e perdeu potência (305 cavalos no OM926, ante os 330 do O-500 M turbinado). Assim sendo, teve duas versões, e é a segunda que compõe o veículo deste artigo.
Viaggio 1050, com 42 lugares. Escalado, também, em linhas interestaduais para Santa Catarina. |
Partindo de Pato Branco, rumo a Curitiba, três empresas fazem o trajeto.
Princesa dos Campos: comprou a linha da extinta Vale do Iguaçú (mais uma das milhões de cisões da família Cattani), operou por muito tempo com tocos e hoje apela para os novíssimos e até anunciados nos jornais(!!!)
Paradiso LD. É a que mais dispõe de horários, e a única a operar a
linha durante o dia, muito embora trate o passageiro com desdém. Via
BR-158 e 277.
Cattani Sul: a Mrs. Catra das viações
do sudoeste faz um horário, que roda ao longo da madrugada, também
pelas BR 158 e 277. Linha histórica da empresa, prefixo 2542, que conta
com carros altos e refrigerados desde 1998 (estes aqui). Dispõe do serviço leito, algumas vezes por semana. É a única que oferece travesseiros e música a bordo.
Reunidas SA:
é a que tomei para mim como a melhor. Opera o trecho há tempos,
fazendo-o pela PR-280, que passa por cidades conhecidíssimas como Palmas
(uma das mais frias do estado) e União da Vitória
a "ilha" em torno do rio Iguaçú que teve 40% de sua área alagada pelas
chuvas de junho. É a única na qual o motorista saúda a todos e passa as
devidas informações, no começo da viagem.
Antes que pense que estou no ápice do meu espírito de bozó ao dizer que "a Reunidas é foda porque sim",
saiba que já fiz a viagem pelas três empresas, parcial ou
integralmente. Ela é foda porque oferece o ônibus mais divertido para se
fazer a viagem, que é longa: chega-se a 8 horas rodando, contra cerca
de 6h30 das concorrentes. E é a que mais entra em cidades, justamente
porque quase não há povoados na rota que as outras operam.
Carro no qual fiz a viagem de ida (e o qual está o link do áudio ao longo da postagem). |
Aí você vai dizer que sou louco, mas as oito horas em um Viaggio "sem" encosto de perna (o da minha poltrona estava deslocado para a esquerda) foram boas. Poltrona 42, banheiro à frente, cooler com bastante e fresca, a viagem toda água. O sujeito que estava na 41 conversou rapidamente comigo e dormiu, o que facilitou os trabalhos a fazer: a gravação e a interpretação da carroceria.
De tão acostumado a viajar de Paradiso 1200, o lado de dentro já é mais que familiar, à exceção da logomarca do SENAI nas cadeiras, padrão na Reunidas (na Pluma, é a já extinta Gazeta Mercantil). Era imperceptível a diferença de altura, pois 15 centímetros são praticamente nada, principalmente ao lembrar que boa parte da viagem ocorre sob a luz do luar no caso, como o tempo estava nublado e chuvoso, breu puro e muita água condensada nas janelas.
Além do encosto fora de esquadro, a pontinha do maleiro de salão não parava de chiar, à medida que o motorista precisava enfiar nosso coitado nos buracos, em várias partes do trecho entre Vitorino e União da Vitória. Detalhe: ainda tinham ocorrido, à época (14 de junho de 2014), apenas as primeiras chuvas; vieram outras no fim daquele mês para terminar de acabar com tudo e talvez por isso, na volta, a bordo disso aqui, a situação da rodovia tinha piorado. Voltando: a carroceria seguiu sem grandes problemas, e em momento algum mostrou fraqueza. Nem goteiras, diante da chuva intensa que caiu em metade do caminho. Nem o teto fazia barulho, como acontece na Geração 7.
Sobre o chassi: eu já tinha andado de O-500 R uma vez, em 2011. No entanto, em trecho urbano, e naquelas poltronas do meio. Não foi proveitoso, senão tirada a conclusão de que ele é feito para voar.
O 27217 é justamente o que eu precisava para ter certeza disso. Certo que o sapato do piloto tinha que ir lá embaixo, o OM926 tinha que cantar até as correias descambarem, mas, sim, esse tal de O-500 R é um demônio voador que arranca com gosto e tira altas velocidades com poucos metros. Chegamos a ultrapassar um Garssia na marginal da RMC.
Não bastasse o grito, o som que emanava do assoalho era um misto de O-371 e K124, ainda que o motor fosse uma remontagem do que vai no O-500 M. Ou seja, parece sem identidade, e não sou o único que teve essa impressão.
----------------------- BAIXE O ÁUDIO DO O-500 R AQUI -----------------------
Ainda assim, é o que tenho para hoje. E, de novo, a lição ao meu amiguinho leitor: não subestime a potência de um propulsor. Digo "de novo", já que cheguei a "cantar essa bola" no ano passado.
E até a próxima.