terça-feira, 12 de agosto de 2014

A viatura da mãe Joana

Saudamentos. Peço desculpa aos senhores por meus surtos de velhice; em vários momentos e temas, tenho me observado como conservador, reacionário e caretão. Hoje, o assunto é um chassi que certamente não agrada, nunca agradou e, pelo visto, jamais vai agradar a alguém. Nem aqui e nem na conchinchina. Porque buseiro, bozó ou similar gosta de potência, independente das dimensões e do contexto de operação do veículo; porém, não é só isso.

O O-500 R já chegou como uma espécie de "político": veio para ser alternativa ao "velho" (cujo nome de guerra é "O-400 RSE"), trazendo uma nova proposta (o motor OM906) e sendo criticado até não poder mais.

Veio ao Brasil em 2001, por meio deste espécime, e explodiu    chegou perto disso, literalmente    em 2002, com as lendárias joaninhas do tio Jelson. Fez sucesso do jeito errado, ganhou refrigeração, mudou o nome do motor e perdeu potência (305 cavalos no OM926, ante os 330 do O-500 M turbinado). Assim sendo, teve duas versões, e é a segunda que compõe o veículo deste artigo.

Viaggio 1050, com 42 lugares. Escalado, também, em linhas interestaduais para Santa Catarina.

Partindo de Pato Branco, rumo a Curitiba, três empresas fazem o trajeto.

Princesa dos Campos: comprou a linha da extinta Vale do Iguaçú (mais uma das milhões de cisões da família Cattani), operou por muito tempo com tocos e hoje apela para os novíssimos    e até anunciados nos jornais(!!!)    Paradiso LD. É a que mais dispõe de horários, e a única a operar a linha durante o dia, muito embora trate o passageiro com desdém. Via BR-158 e 277.

Cattani Sul: a Mrs. Catra das viações do sudoeste faz um horário, que roda ao longo da  madrugada, também pelas BR 158 e 277. Linha histórica da empresa, prefixo 2542, que conta com carros altos e refrigerados desde 1998 (estes aqui). Dispõe do serviço leito, algumas vezes por semana. É a única que oferece travesseiros e música a bordo.

Reunidas SA: é a que tomei para mim como a melhor. Opera o trecho há tempos, fazendo-o pela PR-280, que passa por cidades conhecidíssimas como Palmas (uma das mais frias do estado) e União da Vitória    a "ilha" em torno do rio Iguaçú que teve 40% de sua área alagada pelas chuvas de junho. É a única na qual o motorista saúda a todos e passa as devidas informações, no começo da viagem.

   Peraí, ô piá! Vai dar uma de piranha de ônibus, que nem fez com a Pluma?

Antes que pense que estou no ápice do meu espírito de bozó ao dizer que "a Reunidas é foda porque sim", saiba que já fiz a viagem pelas três empresas, parcial ou integralmente. Ela é foda porque oferece o ônibus mais divertido para se fazer a viagem, que é longa: chega-se a 8 horas rodando, contra cerca de 6h30 das concorrentes. E é a que mais entra em cidades, justamente porque quase não há povoados na rota que as outras operam.

Carro no qual fiz a viagem de ida (e o qual está o link do áudio ao longo da postagem).

Aí você vai dizer que sou louco, mas as oito horas em um Viaggio "sem" encosto de perna (o da minha poltrona estava deslocado para a esquerda) foram boas. Poltrona 42, banheiro à frente, cooler com bastante    e fresca, a viagem toda    água. O sujeito que estava na 41 conversou rapidamente comigo e dormiu, o que facilitou os trabalhos a fazer: a gravação e a interpretação da carroceria.

De tão acostumado a viajar de Paradiso 1200, o lado de dentro já é mais que familiar, à exceção da logomarca do SENAI nas cadeiras, padrão na Reunidas (na Pluma, é a já extinta Gazeta Mercantil). Era imperceptível a diferença de altura, pois 15 centímetros são praticamente nada, principalmente ao lembrar que boa parte da viagem ocorre sob a luz do luar    no caso, como o tempo estava nublado e chuvoso, breu puro e muita água condensada nas janelas.

Além do encosto fora de esquadro, a pontinha do maleiro de salão não parava de chiar, à medida que o motorista precisava enfiar nosso coitado nos buracos, em várias partes do trecho entre Vitorino e União da Vitória. Detalhe: ainda tinham ocorrido, à época (14 de junho de 2014), apenas as primeiras chuvas; vieram outras no fim daquele mês para terminar de acabar com tudo    e talvez por isso, na volta, a bordo disso aqui, a situação da rodovia tinha piorado. Voltando: a carroceria seguiu sem grandes problemas, e em momento algum mostrou fraqueza. Nem goteiras, diante da chuva intensa que caiu em metade do caminho. Nem o teto fazia barulho, como acontece na Geração 7.

Sobre o chassi: eu já tinha andado de O-500 R uma vez, em 2011. No entanto, em trecho urbano, e naquelas poltronas do meio. Não foi proveitoso, senão tirada a conclusão de que ele é feito para voar.

O 27217 é justamente o que eu precisava para ter certeza disso. Certo que o sapato do piloto tinha que ir lá embaixo, o OM926 tinha que cantar até as correias descambarem, mas, sim, esse tal de O-500 R é um demônio voador que arranca com gosto e tira altas velocidades com poucos metros. Chegamos a ultrapassar um Garssia na marginal da RMC. 

Não bastasse o grito, o som que emanava do assoalho era um misto de O-371 e K124, ainda que o motor fosse uma remontagem do que vai no O-500 M. Ou seja, parece sem identidade, e não sou o único que teve essa impressão.

----------------------- BAIXE O ÁUDIO DO O-500 R AQUI -----------------------

Ainda assim, é o que tenho para hoje. E, de novo, a lição ao meu amiguinho leitor: não subestime a potência de um propulsor. Digo "de novo", já que cheguei a "cantar essa bola" no ano passado.

E até a próxima.