quinta-feira, 3 de julho de 2014

Perdendo a mão

Saudamentos, caro leitor. Talvez nem exista mais, já que não escrevo nada pra cá há tempos. Talvez já tenha desanimado daqui. Muitos, de cara, nem se empolgam, ao se deparar com uma página de ônibus que quase não tem foto de ônibus.

Dizem que uma crítica é sempre válida, desde que seja ela uma catapulta que mire o progresso. Dizem, apenas. Vou fazê-la, então, já que estou disposto a isso, tendo em vista o momento atual. Se tiver paciência de ler até o final, vá com calma. Vou elencar cada ponto.

Ônibus antigo. Dado como velho, para um determinado público.

IDADE DA FROTA e avanço tecnológico: em primeiro lugar, porque é onde o passageiro mais dá pitaco. E o chamado "bozólogo" também.

Nem é o passageiro comum, pois, como disse em outra postagem, ele não se importa se o ônibus foi "feito em 1530" ou se "estreou amanhã". Só pára para ver se está limpo, ajeitado, se as cordinhas funcionam, a iluminação está acertada... E olhe lá.

Já cheguei a considerar que ônibus novo, na cidade dos outros, é refresco. Mas, às vezes, me pego a pensar que o errado sou eu. Que sou eu o velho ranzinza que resiste a mudanças, como a dos itinerários (lonas por DOTS    vulgo mosaico    e leds, ambos quais você pode ver melhor aqui) e a dos sistemas de bilhetagem.

No primeiro caso, pelo "esforço" que os operadores do carro fazem para acertá-lo. No edital de transporte urbano de São José dos Campos (SP), por exemplo, essa foi a desculpa dada para que todos os novos veículos tenham que abolir a lona, que, como sabemos, tem um único problema: entorta ou trava. Acontece, mesmo com manutenção    o que, em letreiros digitais, seria como a queima daquelas micro-lâmpadas. 

Falha mecânica é menos provável que eletrônica.

No segundo, as quedas nos sistemas informatizados e a impraticidade de viajar mais barato, que já comentei aqui.

   Como assim, dá pau nos cartão, piá?!

Sim. Embora o uso massivo do cartão dispense o trabalho de um cobrador    e os sindicatos já perderam a cabeça com isso    os usuários ficam à mercê de uma máquina que atrapalha o embarque (exemplo aqui), tem surtos de ladrão (desconta uma passagem, quando deveria descontar meia) ou, simplesmente, APAGA    e lá vai o motorista reiniciá-la, atrasando ainda mais a viagem. Isso quando não é o sistema informatizado dos cartões.

Ou seja, a operação com passes de papel é mais devagar; no entanto, dá a certeza de que funciona.

Há um terceiro caso, esse sim muito importante. Fabricantes de veículos em geral têm se preocupado em demasia, de uns anos pra cá, com aerodinâmica e leveza dos materiais. O que reflete diretamente na resistência desses novos ônibus, tão desejados pelos xaropes de plantão.

A carroceria Marcopolo G7, que é o modelo de contrato da FIFA, é bastante conhecida por ser de "papel", e também por não dar a devida prioridade ao motorista. Maleiros e vidros (especialmente os colados) praticamente se põem a "dançar" na carroceria, sem contar no verdadeiro telhado que se tem acima das poltronas. Algumas dessas falhas foram comentadas aqui; acreditei que a fabricante fosse dar um grew up no produto, mas... Me enganei. Só alguns mais velhos notam essas falhas; os jovens não estão nem aí.

Ônibus novo. Chama atenção do passageiro à primeira vista, mas mostra fragilidade.

Toda essa galera que pede frota zero km ainda costuma querer, de lambuja, passagens mais baratas (quando não, de graça), mais horários, guaraná, café, cerveja e salgado a bordo y otras cosas más. Pede não, EXIGE; vai às ruas acreditando que transporte público tem que ter dotes de transporte particular. E isso me lembra...

PASSE LIVRE: é essa a patota que quer tudo aquilo que citei acima, pontualidade britânica, ônibus na porta de casa com tapete vermelho e mais um pouco. Até mesmo que não tenha passageiro em pé.

O transporte coletivo urbano carrega gente por metro quadrado    aliás, gente, não: boneco, segundo a gíria dos motoristas em algumas cidades paulistas    e, por isso mesmo, em cidades onde se percorrem curtas e médias distâncias, a prioridade é por carros de fila única. Isto é, tem 35 lugares quando poderia ter 50. Ao revés, como nas capitais, mais lugar significa mais conforto.

Reajustes de tarifa passam por verdadeiros calvários. No ano passado, precisou encarar a fúria do povo.

Mas o povo não entendeu que a inflação voltou para ficar (e tem gente achando que não) e faz força para não entender que empresário não é dono de estatal. O governo brasileiro imprimiu cerca de 50 bilhões de reais nos últimos anos, resultando nessa ciranda aqui. Já entendeu o resto ou quer que desenhe?!

Não entendeu, também, que cada ônibus queimado é um prejuízo da ordem de 350 mil reais que, passado um tempo, vai ser colocado nos reajustes de passagem ou cortado do orçamento, resultando em baixa n'algum lugar. Nem que esse, tirado à força da frota, vai atrasar e aumentar o custo de vida dos passageiros daquela linha.

Fecha os olhos para o fato de algumas administrações simplesmente tentarem "podar" as operações de algumas viações    o exemplo fresco de Mauá é o mais próximo (e pesado) que tivemos    e que transporte público virou um negócio engolido pela política: se tem os "podados" é porque tem, também, os apadrinhados.

Ônibus ostentando a bandeira do Brasil, país que anda privilegiando o carro de passeio.
 
   Mas e aí, piá? Qual é a desculpa dessa gurizada do passe livre?

Discuti, há alguns meses, com uma ativista do movimento no RS. O que ela dizia é que o cidadão tupiniquim paga a tarifa duas vezes. E era só isso.

Não nego que isso seja verdade. De fato, ao trabalhar mais de cinco meses praticamente de graça, a sensação é essa. Todavia, não é só a volta na roleta que a gente paga duas vezes. TUDO se paga duas vezes, e qualquer um de nós tem a noção disso.

Nesse setor tão importante, as isenções fiscais de aplicação nacional chegaram tarde. Cada estado ou município tinha de se virar e arcar com parte dos custos, dando desconto no IPVA, por exemplo. Ou seja: até pouco tempo atrás, tinham que pagar, pelo menos, toda a tributação dos veículos, os encargos trabalhistas dos seus funcionários e imposto de renda. Igual a qualquer outro dono de frota    mesmo os Correios, uma estatal.

Mas tem gente mesquinha o suficiente pra pensar que o azar é do dono, já que "resolveu" ser dono. Mais mesquinha ainda em querer ajuda petista na compra de um automóvel particular, em detrimento à ajuda que o dono de viação não tem.

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Eu iria me alongar no assunto, mas acho que não vai servir para absolutamente nada. Vou encerrar deixando links pra ilustrar um pouco desses tópicos, e mostrar que não estou (de todo) errado.

Empresários de transporte com prejuízo e paralisia política

O amado, idolatrado e salve-salve que desmancha (1) 

O amado, idolatrado e salve-salve que desmancha (2)

O amado, idolatrado e salve-salve que desmancha (3)

A maior churrascada de Apache Vip já vista em todo o mundo

Os fatores da modernidade resultando nisto aqui

A lógica nos passes gratuitos e escolares

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E até a próxima.